O prazer das línguas num mundo alegre
É assim: do português nunca aprendi as regras; nem frequentei
o ensino. Gostei da música da língua e fui ao Brasil aprender nas ruas.
Na vida, eu não gosto de complicações - é igual nas
línguas. E pois é, no fundo, sempre vi as línguas como realidades feitas de
prazer e vitalidade.
Uma língua é o quê? Gramática, aborrecimento, chatice?
Pode ser; aliás para mim já foi. Mas também é a melhor maneira que conheço de me
ligar à alma dum povo.
Uma língua é chegar a Santo André com sotaque
brasileirinho, almadiçoar joyeusement
o tempo e descobrir logo a seguir que acham que ele é brasileiro. Pois é!
Uma língua é epá,
opa, 'já não sei, pá', é um acento gráfico louco que sempre está onde
não deveria. É resmungar da matéria com os alunos e depois fazer o mesmo com os
professores (José, se estás a ler...). É rir e partilhar e rir mais ainda. Pois
é!
Uma língua é aprender que não se mexe com o Benfica, que
não há pior criatura que um Espanhol (senão, talvez, um sportinguista), que se
come bacalhau até no Natal. Pois é..?
Uma língua, finalmente, é um tesouro, quer a sua, ou quer
a de outro. É um oceano, um Mar que se estende para nós mergulharmos nele. É
uma segunda pele que nos cola à alegria do mundo.
A quem não gosta de línguas, quero então dizer: faça o
favor de parar de complicar.
Ultrapasse a disciplina escolar, deixe a ideia de ser
julgado e logo descobrirá, sem mesmo querer, que está a disfrutar. Veja lá o
caso do jovem Pierre: o português levou-me até à sua terra e abriu-me o seu
coração.
Entrei aqui como estrangeiro, mas
vou sair (espero!) como amigo. E agora que volto ao meu próprio Mar, fica para
o francês o dever de devolver o favor. Obrigado a todos, até logo e Sarava!
Pierre-Olivier
Fons
Aquele
rapaz francês que andava pela escola
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