quarta-feira, 11 de abril de 2018

Santo André - «antes» e «agora» (exposição itinerante)

A cidade que continua por fazer?
Foi a única cidade construída de raiz em Portugal no século XX. Sonhada para 100 mil pessoas, nunca passou das 15 mil. Nasceu há 40 anos e durante duas décadas viveu-se a utopia de um Portugal moderno. Neste microcosmos urbano há uma cidade ainda à procura de identidade.


Há 40 anos, os primeiros habitantes começavam a chegar a Santo André, a única cidade construída de raiz em Portugal no século XX. Filha do grande projeto industrial e portuário de Sines, foi sonhada para 100 mil pessoas, mas nunca passou dos 15 mil. Durante quase 20 anos, à sombra do Gabinete da Área de Sines, viveu-se da utopia de um Portugal moderno, na incerteza do período revolucionário, face aos sucessivos reveses da história.

Um antes difícil de imaginar, entre a lezíria e o ferragial, o pomar, a vinha e a pesca à linha. Um antes em que os lugares tinham nomes estranhos: Giz, Brescos, Cebolas, Deixa-o-Resto, Azinhal. Um antes que pertencia apenas, desde o século XIX, ao “ciclo do arroz” da Comporta à Lagoa, que alternava o solo das colheitas de arroz em pântanos e paúis. Difícil de imaginar, “porque não tem nada que ver com a imagem de marca do Alentejo, uma zona seca, onde falta água, de seara, de planície, de grandes espaços. Com o 'ciclo do arroz' começa a construção da contemporaneidade desta zona”, explica à Revista 2 o historiador João Madeira, também professor, que vive em Santo André. "O projeto industrial de Sines vem, por substituição, selar um irreversível quadro de contemporaneidade na região. É Sines que vai conferir ao novo Centro urbano elementos únicos."

A cidade é um corpo estranho, ainda hoje, 40 anos depois, para quem chega e para quem nela vive. Totalmente nova, construída do zero, no meio do areal, desenhada de raiz.