A cidade que continua por fazer?
Foi a única cidade construída de raiz em Portugal no século
XX. Sonhada para 100 mil pessoas, nunca passou das 15 mil. Nasceu há 40 anos e
durante duas décadas viveu-se a utopia de um Portugal moderno. Neste
microcosmos urbano há uma cidade ainda à procura de identidade.
Há 40 anos,
os primeiros habitantes começavam a chegar a Santo André, a única cidade
construída de raiz em Portugal no século XX. Filha do grande projeto industrial
e portuário de Sines, foi sonhada para 100 mil pessoas, mas nunca passou dos 15
mil. Durante quase 20 anos, à sombra do Gabinete da Área de Sines, viveu-se da
utopia de um Portugal moderno, na incerteza do período revolucionário, face aos
sucessivos reveses da história.
Um antes
difícil de imaginar, entre a lezíria e o ferragial, o pomar, a vinha e a pesca
à linha. Um antes em que os lugares tinham nomes estranhos: Giz, Brescos,
Cebolas, Deixa-o-Resto, Azinhal. Um antes que pertencia apenas, desde o século
XIX, ao “ciclo do arroz” da Comporta à Lagoa, que alternava o solo das
colheitas de arroz em pântanos e paúis. Difícil de imaginar, “porque não tem
nada que ver com a imagem de marca do Alentejo, uma zona seca, onde falta água,
de seara, de planície, de grandes espaços. Com
o 'ciclo do arroz' começa a construção da contemporaneidade desta zona”,
explica à Revista 2 o historiador João Madeira, também professor, que vive em
Santo André. "O projeto industrial de Sines vem, por substituição, selar
um irreversível quadro de contemporaneidade na região. É Sines que vai conferir
ao novo Centro urbano elementos únicos."
A cidade é
um corpo estranho, ainda hoje, 40 anos depois, para quem chega e para quem nela
vive. Totalmente nova, construída do zero, no meio do areal, desenhada de raiz.